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Na sala de espera do dentista, pegas numa revista à sorte e dispões-te a folheá-la.
Passas as páginas sem muito interesse, mais para aplacar os nervos: conselhos de beleza, cinema, música, moda...
Detens-te num teste de personalidade.
Lês as perguntas e mentalmente vais respondendo.
Ainda que o aceites como um jogo, somas os pontos e chegas à conclusão que és uma pessoa emocionalmente estável.
Isso diz a revista:
Mais de 50 pontos, emocionalmente estável.
“Sacaste 55”.
Chama-te o dentista.
Sentas-te na cadeira e abres a boca.
Abandonas-te aos trabalhos do médico enquanto pensas na tua estabilidade emocional.
Sentes como a agulha se introduz na tua gengiva, uma dor que pouco a pouco se transforma em anestesia.
A tua vida sempre foi assim: uma soma de anestesias contra a dor.
Meia hora mais tarde estás num táxi a caminho de casa.
O taxista tem uma fotografia dos seus dois filhos dependurada no espelho retrovisor.
Os efeitos da anestesia começam a desaparecer.
A dor volta.
Pela primeira vez, inverte-se o processo.
Dizes ao taxista:
- Páre aqui.
Aqui mesmo.
Pagas a corrida e sais do táxi.
Está a chover.
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