O VIDEIRINHO
terça-feira, agosto 01, 2017
DUAL VIDA
Abre a porta do frigorífico.
Quatro ovos solitários saúdam-na a partir das prateleiras vazias.
Não há leite para o café.
Suspira e decide preparar um chá.
Enquanto a água ferve, cruza os braços num abraço cálido.
Fecha os olhos e sente os seus, sente saudades, tantas que dói.
O água borbulha no fogo.
Às vezes, também, tem saudades do atarefamento das comidas quando a casa se enchia de cheiros e risos.
Agora só o silêncio a recebe.
Um silêncio de buraco negro que tudo engole. Dá um sorvo ao chá, esqueceu-se de lhe deitar açúcar e amarga, mas não tanto como a sua vida.
Olha o montão de comprimidos dispostos sobre a mesa da cozinha, há-os de todas as cores, ainda que lhe parecem todos iguais, não há diferença.
Só servem para prolongar-lhe a vida.
Mas é isso o que realmente quer?
Interroga-se.
Vai ao quarto de banho e frente ao espelho ensaia sorrisos, ensaia outra cara.
Essa outra cara que mostra todos os dias e que diz ao mundo que não vai poder com ela, que pensa prosseguir na luta, ainda que doa, ainda que a amargure, ainda que a devore.
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